obituário
adjetivo
1 relativo ou pertencente a óbito ‹a seção o. de um jornal›
substantivo masculino
2 m.q. mortalidade (no sentido de 'número de pessoas')
adjetivo e substantivo masculino
3 diz-se de ou registro de óbitos ou livro em que se lançam os nomes dos mortos, dia da morte e enterro etc.
4 diz-se de ou nota de falecimento ger. publicada em jornal, acompanhada de perfil biográfico do morto
5 rel diz-se de ou livro, existente em certas igrejas, que contém uma lista de mortos com o fim de lembrar os sufrágios a serem realizados pelas almas dessas pessoas
Item 4. Basicamente, no jornalismo, é o que você lê quando alguém morre.
Na verdade, deveria ser, mas não é.
Com as redes sociais, quando alguém morre, o que se lê e se vê é o chamado eubiturário. Ia colocar aspas para indicar que a palavra não existe, mas a prática é tão comum que não é necessário.
O eubituário consiste em falar de si, do seu umbigo, deixando a pessoa que morreu em como coadjuvante, um figurante qualquer.
O fato de o termo começar com “eu” diz muito. É o seu ego bombando, como se o Bruce Banner se tornasse o Hulk em uma fração de segundo. Muita gente nem tem o Dr. Banner, já se enxerga com a força sobre-humana o tempo todo, imagina em momentos como esse?
Morre alguém e a história se torna, automaticamente, sobre quem escreve, e não sobre quem não está mais aqui.
Lindas e belas homenagens, memórias de histórias incríveis, que poderiam (deveriam?) ter sido compartilhadas em vida, mas que foram guardadas e devidamente exaltadas especificamente para o momento da morte.
O eubituário é a forma mais mesquinha de “jornalismo”, aqui, com aspas. É uma inversão de ordem que escancara o pior lado do ser humano. Adivinha? O eu, ops, EU.
Falando sobre “eu”, uma ressalva: já fiz isso e não me orgulho. Achava que uma boa história deveria ser compartilhada no momento-chave. Só que a vida não dá trégua, e quando você perde pessoas ao seu redor fica evidente que a história não só sobre você. Nunca foi e nunca será sobre você, camarada.
O eubituário é a cara de uma profissão desvalorizada, desacreditada e arrasada. É o sinal claro de que os profissionais esqueceram que são o meio, não o começo, nem o fim. Apenas e tão somente o meio. E, nessas, a essência acaba, e todo o resto desmorona.
Conte suas histórias para seus filhos, amigos, compartilhe com suas famílias, relembre com quem viveu isso contigo. Mas não deixe para o momento da morte. Triste, deprimente.
Admito que eu cometi um eubituario ontem. Não vai se repetir.