O rapaz solitário no karaokê de segunda-feira
Carne seca com mandioca, suco de qualquer coisa e apenas uma música
Tem um karaokê perto da firma. O nome do estabelecimento é quase um trocadilho com o serviço prestado. Em frente ao cemitério, também pode ser uma piadoca com sua localização geográfica. Algo parecido com “ao vivo”. É real, existe e fica lotado.
A cada dois meses, mais ou menos, visitamos o palco. Os frequentadores geralmente estão acima da média na cantoria. Chega a ser intimidador. Mas nada que um bom Maurício Manieri com o sentimento na medida não ganhe a plateia.
Claro que tem a turma que ama demais e expressa toda essa paixão arrebatadora com um volume ensurdecedor. Do nada um “Evidências” às 18h37, por exemplo, com sete pessoas na plateia. E nessa loucura passam-se 4 minutos. Batemos palmas para todos.
Geralmente vamos às segundas-feiras. É mais vazio, dá para se aventurar no palco mais vezes e ir embora bem cedo com a diversão já garantida. Se você passar em frente às quintas ou sextas, por exemplo, não dá para entrar. Tem o outro lado também: na teoria, os viventes bebem menos, então, é mais agradável.
Era uma bela noite, daquelas clássicas. Cedo, poucas pessoas presentes. Duas mesas atrás avisto um senhor mais ou menos da minha idade. Claramente era um habitué, já que conhecia as garçonetes. Sozinho, degustava uma porção de carne seca com mandioca. Suco de qualquer coisa para acompanhar. É isso.
Sem julgar, mas julgando… Improvável que ele estivesse ali pela comida saborosa, esse tipo de coisa não existe naquele salão. Já comemos algumas porções e, basicamente, pedimos porque é o que tem e estamos com fome. A qualidade é duvidosa.
O suco, bem… Não vou repetir o parágrafo acima.
Ouvir uma boa música? Então… Quem canta não é bem um sinônimo de “cantor”, né? O som é de karaokê, só não tem aquela nota no final, então a música não é bem “música”. Fica difícil entender.
De qualquer forma, o rapaz estava lá. Em dado momento, subiu ao palco. Uma pena que não anotei a música, e minha memória não ajuda em nada. Com certeza não foi algo marcante. Batemos palma. Não percebi, mas em algum momento ele deixou o recinto.
Provavelmente, diante dos seus olhos e ouvidos, rolou um Bee Gees carisma, um “You Get What You Give” para balançar o esqueleto (sem trocadilho), ou ainda uma do Raça Negra, "É Tarde Demais" cai bem. Temos um ET na nossa turma que canta como profissional e eleva o nível. O restante da galera, e me incluo aqui, não faz feio, mas, bem, podemos desafinar mais do que deveríamos.
De qualquer forma, demos o nosso melhor. Espero que, suco e carne seca com mandioca à parte, nosso esforço tenha dado um pouco de felicidade para o nosso amigo.
Que venham mais segundas-feiras!